Erva-mate tradicional e agroecológica do Paraná dá a largada para obter reconhecimento de agência da ONU

(Curitiba, 15/12/21) Uma comitiva liderada por representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil e do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) fez uma visita técnica a sistemas de cultivo de erva-mate desenvolvidos com bases em tradições comunitárias e princípios agroecológicos. A visita aconteceu nos dias 10 e 11 de dezembro em propriedades rurais, onde os visitantes conversaram com agricultores e agricultoras nos municípios de Irati, São Mateus do Sul e São João do Triunfo. A comitiva foi acompanhada por representantes dos agricultores, Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR) e pesquisadores ligados a instituições de ensino e pesquisa paranaenses.

A visita faz parte de uma estratégia para obter reconhecimento como patrimônio agrícola mundial os cultivos de erva-mate nas propriedades rurais de agricultores familiares e comunidades faxinalenses, quilombolas e de terras indígenas do Centro-Sul e Sudeste do Paraná. Este reconhecimento é concedido pela FAO no âmbito do programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM). São modelos exemplares que aliam a produção agrícola à manutenção de tradições, valorização social, saberes e técnicas populares, bem como auxiliam na preservação do meio ambiente.

Ao redor do mundo, a FAO reconhece 62 sistemas agrícolas em 22 países. Destes, apenas quatro são na América Latina, e o “Sistema Tradicional e Agroecológico de Erva-mate na Floresta com Araucária” é candidato a ser a segunda iniciativa brasileira ao programa SIPAM – a primeira foi o reconhecimento às comunidades apanhadoras de flores sempre-vivas, na Serra do Espinhaço em Minas Gerais.

“A FAO é uma grande entusiasta do reconhecimento dos Sistemas Agrícolas Tradicionais, pois entende que estes sistemas apresentam uma importante relevância histórica, cultural e social para toda a sociedade”, explicou o Representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala. “Além disso, para nós é muito importante esta etapa de validação de uma poderosa candidatura de mais um sistema tradicional brasileiro”, afirmou Zavala.

No trâmite de análise da proposta paranaense, a iniciativa da FAO conta com um Conselho Científico Consultivo, grupo independente de pesquisadores de várias partes do mundo que fazem a avaliação e aprovação dos sistemas que concorrem ao SIPAM. A brasileira Patrícia Goulart Bustamante, pesquisadora vinculada à Embrapa, é uma das integrantes do Conselho e acompanhou a visita. Ela explica que cinco aspectos são avaliados: segurança alimentar e meios de subsistência; agrobiodiversidade; formas de conhecimento locais e tradicionais; exemplos de culturas, sistemas de valor e organização social dos cultivos tradicionais e agroecológicos; e a caracterização das paisagens rurais.

A produção tradicional de erva-mate do Centro-Sul e Sudeste do Paraná envolve aproximadamente 7 mil estabelecimentos rurais da agricultora familiar e de comunidades tradicionais. Cultivados em modo agroecológico junto a remanescentes de Floresta com Araucária, do qual a planta é uma espécie nativa, agregam conhecimentos e saberes tradicionais e ancestrais. A erva-mate é usada, principalmente, no preparo de bebidas como chimarrão, tererê e infusões (“chá mate”). Além das bebidas, a planta também é usada como ingrediente em outros produtos alimentícios, fármacos e cosméticos.

O produtor Bernardo Vergopolem, que acompanhou a missão, explica que produzir erva-mate é motivo de orgulho e de satisfação, ainda mais em um sistema que contribui para a preservação do meio ambiente e para o resgate da cultura ancestral. Além disso, o reconhecimento trará uma valorização importante para os produtores e produtoras e para a região.

Candidatura – Os agricultores tradicionais e agroecológicos paranaenses estão trabalhando desde 2020 para viabilizar a candidatura da qualificação como sítio do patrimônio agrícola mundial. A mobilização deles tem a liderança do Observatório dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate, lançado em 2019 sob liderança do MPT-PR e que reúne mais de 20 instituições, como sindicatos de trabalhadores rurais, prefeituras, centros de pesquisa, universidades e organizações do Terceiro Setor. “Desde 2019 temos apoiado este trabalho, e bastou dar um estímulo para a organização de agricultores familiares e instituições que resultados começaram a aparecer muito rápido, como é o caso desta possibilidade de reconhecimento da FAO”, afirma a procuradora-chefe do MPT-PR e uma das integrantes do Observatório, Margaret Matos de Carvalho. “Nós nos orgulhamos em participar deste projeto e apoiar a organização de famílias de produtores, para que atuem em associações e cooperativas populares, garantindo sua representatividade, respeito e independência econômica.”

A candidatura que está em curso junto à FAO também teve assessoramento do Centro de Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais de Ervamate (CEDErva), uma instituição composta por pesquisadores de diversos campos de conhecimento para apoiar a manutenção e difusão das práticas agrícolas tradicionais. Segundo a presidente do CEDErva, Evelyn Roberta Nimmo, foram colocados no mesmo ambiente erveiros, erveiras e pesquisadores. Os pontos de vista multidisciplinares reforçam a aderência dos sistemas de erva-mate com os aspectos avaliados pelo SIPAM. “Um exemplo é a relação da agrobiodiversidade das propriedades rurais com a segurança alimentar e a paisagem da região. Os ambientes onde vivem e trabalham os agricultores vão além da erva-mate e são muito diversificados, contribuem para o trabalho e a renda, bem como garantem o sustento das famílias”, afirma Nimmo, que também é pesquisadora com trabalhos nas áreas de História, Arqueologia e Museologia.

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